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quinta-feira

Lobão falou, Lobão avisou

Já vivi alguns momentos importantes nesta minha medíocre carreira jornalística. Nunca entrevistei Paul McCartney, presidente da República, Fernandinho Beira-Mar, Paulo Coelho. Mas posso dizer que conheço bem a dificuldade de esperar uma informação e ela não chegar, e o quanto isso revela sobre as pessoas e o mundo. Uma exclusiva com o Papa não revela nada sobre as idiossincrasias dos católicos, seus verdadeiros pecados e virtudes. Isso a gente só consegue aprender vendo gente na frente, falando com as pessoas. Talvez um dia eu queira fazer este tipo de jornalismo, que também não é o "jornalismo social" apregoado por aí.

A vida de alguém que começa a labutar em jornal, revista ou assessoria faz a gente desistir de prima ou seguir em frente com pose de batalhador. Como falei em posts atrás, me desiludi com o jornalismo e não o abandono por um pouco de preguiça e pela consciência de que não sei fazer outra coisa. Sou inapta mesmo. Devia ter insistido no piano clássico, mas dá muito trabalho ser virtuose.

O que não significa que, quando trabalho, sou ineficiente. Faço de tudo pra apurar, entrevistar. Cumpro minha função e perturbo mesmo. Já levei vários "como você é insistente, garota!", "não adianta ligar mais, fulano está viajando", "quantas vezes eu tenho de dizer que não quero falar?". Cinco minutos depois do orgulho ("bom jornalista é assim mesmo; mal visto, chato") chega a melancolia ao reconhecer que você é apenas mais um, fazendo um trabalho de inquisidor, e que o mais importante é ouvir sem precisar perguntar.

Essa semana me sinto exausta. Corri atrás de pessoas por telefone e por e-mail, em busca de uma informação besta. Você sabe quais são os 10 discos brasileiros mais vendidos da história? Eu não sabia. O leitor precisava saber. As gravadoras não querem que você saiba. A desorganização do mercado enche a imprensa de desculpas - "estamos em plena fusão", "o novo sistema está com defeito", "mas eu não posso parar o que estou fazendo pra te atender! Você quer que eu mexa em arquivos de 1960??" e outras vagabundagens perfeitamente compreensíveis. Todo mundo sabe que assessoria de imprensa está ali para atrapalhar, para burocratizar o sistema. Mas no caso de indústria cultural, é vergonhoso reconhecer que a má-vontade geral camufla um monte de mentiras. A interpretação é simples: a indústria fonográfica é podre e não
merece nosso respeito. A partir de hoje, quando eu vir aquelas ridículas cerimônias, Prêmio Visa, VMB, Faustão concedendo disco de platina, vou sentir ainda mais nojo. Nem que todas as assessorias de imprensa me atendessem, e eu conseguisse montar a lista com 10 nomes, o trabalho continuaria porco, falho, inválido. Nunca ninguém vai saber com certeza quantos discos foram vendidos, quantos CDs, fitas K-7... Nessas lambanças até o Roberto Carlos pode perder o trono.

Que falta de respeito.


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