Meu nome é Olívia Fraga, gosto de ler e é só isso que você precisa saber.
 
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  * Só Aborrecimento
* Chão
* Desagradável
* No Mínimo
* Jesus, Me Chicoteia




sexta-feira

Alguém já deve ter notado...
1) Posso ser uma completa "mané", uma porta (com certeza já notaram isso). Mas esse arremedo de blog é melhor que toda a obra do Gabriel Chalita escrita até hoje - e depois também.
2) A pior música dos últimos tempos é You're Beautiful, do James Blunt. Pior que Charlie Brown Jr., que aliás emerge hora ou outra com alguma coisa audível, para meu completo espanto. No álbum anterior, com a banda ainda "intacta", Lugar ao Sol me surpreendeu. Dava até pra ouvir uma segunda vez de tão boa (não tentei na terceira; tava pedindo demais pros meus ouvidos). Na era pós-Champignon, Ela Vai Voltar consegue entreter por mais de 30 segundos. Não é tão boa quanto Lugar ao Sol, mas é o caso de se investigar o que Chorão anda fazendo da vida, já que conseguiu se superar duas vezes nos últimos três anos. Eu acho que ele precisa assumir logo que seu sonho de criança é mesmo ser um crooner arrumadinho e limpinho, porque quando ele canta em português, em cima de uma melodia previamente estabelecida, não é de todo ruim.
3) Ficou mais claro agora: Rain, dos Beatles (circa 1966), é a música que o Oasis vem tentando fazer desde o início de sua carreira. Quase conseguiu com esse novo disco.

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sábado

Dos livros
Tenho feito leituras tortas. Começo um título, engato outro no meio, termino dois no mesmo dia. Ainda preciso fazer justiça ao Grande Sertão: Veredas (em breve, muito breve), mas por enquanto, lá vão duas ou três linhas sobre os mais marcantes:

  • Jacques Le Goff virou meu amigo há alguns anos, mas perdemos o contato e resolvi reencontrá-lo na obra Em Busca da Idade Média (Ed. Civilização Brasileira, 218 p.). Compilação de idéias trabalhadas ao longo de anos de pesquisa como medievalista, o livro é de 2003, e surgiu de uma série de conversas com Jean-Maurice de Montremy, jornalista e estudioso do tema. Vale como revisão historiográfica, reflexão intelectual, aprimoramento de estudos para quem já gosta do assunto.


  • Tom Wolfe continua fora da minha lista na categoria "romance". Seu Radical Chique (Ed. Companhia das Letras, 245 p.) reúne uma "introdução teórica" e o "resultado prático" do estilo de reportagem que ajudou a criar nos Estados Unidos. Três textos ensinam aos novatos o bê-a-bá do Novo Jornalismo, esse fantasma que atormenta o sono de todo repórter. Para o bem e para o mal, Tom Wolfe e seus comparsas criaram o jornalista-cabeça, o texto de grife, asas mecânicas para quem não nasceu passarinho, e a consequência disso é notada em toda redação de jornal impresso do planeta. Como tudo o que surgiu nos anos 60, o livro é rock'n'roll e delicioso. À geração futura só resta lamentar. Que tempo bom, que não volta nunca mais.

  • Uma análise um tanto angustiante da sociedade é o assunto de Desejo de Status (Ed. Rocco, 297 p.), escrito por Alain de Botton, de quem li apenas o bacaninha O Movimento Romântico. O livro divide-se em duas partes. Primeiro, de Botton apresenta as causas de frustrações na vida social e, em seguida, no modo como as pessoas resolvem estas questões. Alain de Botton é um autor inteligente, mas um dia eu ainda falo minhas bobagens acerca da literatura de auto-ajuda de luxo.

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quarta-feira

Oscar: give me some lovin'?

Alguma coisa me dizia que Brokeback Mountain não ia levar. E aí é aquela coisa: cada crítico-espectador levanta uma lebre para justificar a "zebra". É fácil cair na armadilha dos argumentos conspiratórios, como "a Academia não teve coragem de sair do armário", "preferiram pulverizar as premiações, dividindo o bolo entre os concorrentes", "Crash gastou quase metade do seu orçamento com lobby e distribuição de DVDs aos votantes"... Todas as explicações são válidas, mas também insuficientes, pelo menos para mim. Eu não daria o prêmio a Brokeback, e meus argumentos são bem mais confusos.

Minha reação ao filme mais comentado do ano foi das mais impressionantes: saí do cinema com sono, doida pra ver Boa Noite e Boa Sorte, incomodada com aquela cena de amor inicial que contaminou toda a percepção que tive do resto.

Li muitas críticas depois que assisti a Brokeback Mountain. Não tenho objeção ao tema, ao diretor, gosto de todos os atores, até a garota que faz par romântico - que ironia usar esse termo, "par romântico"... - com Jake Gyllenhaal fez direitinho o que lhe coube, mesmo que as ovelhas tenham aparecido mais no filme do que ela. Mas o que estava acontecendo, que eu não me empolguei com aquilo? Foi Arnaldo Jabor (odeio admitir...) quem matou parte da charada, em sua coluna no Estadão de ontem. Um dos melhores trechos: "Trata-se de um filme sobre o império profundo do desejo e não uma narração simpática de um amor 'desviante'. O filme se impõe assustadoramente. (...) Brokeback é imperioso, realista, sem frescuras. (...) Eu é que tinha de pedir compreensão aos autores do filme, eu é que tive de me adaptar à enorme coragem da história, de Ang Lee". Ou seja, não importa que seja um filme sobre um amor gay.

Complicado: eu não consegui projetar nenhuma relação amorosa, real ou cinematográfica, hétero ou homo, naquele casal. Foge completamente aos meus parâmetros. Resta muito pouco para o resto do filme, a partir daquelas primeiras impressões. As atuações, embora competentes, são ofuscadas pela imagem daquela cabana, daqueles abraços apertados, daquele beijo entre casas de subúrbio. É tudo muito cheio de hematomas. Não saem da minha cabeça dois momentos: a cena de Heath Ledger socando a parede, nauseado, de volta à "vida real", e a briga de Ennis e Jack quando eles dão adeus ao "mundo mágico da montanha" que viria a persegui-los anos a fio. Os amigos-amantes trocam socos e pontapés para, em dois ou três segundos depois, explodirem em afeto. Brokeback não é um filme de amor convencional, e não é por ter como protagonista um casal de homens. É pela violência entorpecente do desejo. Uma coisa meio freudiana, meio Totem e Tabu, meio pulsão de morte...

Tive uma percepção parecida a respeito de Dançando no Escuro, de Lars von Trier. A dramática história da operária me soou falsa em sua tentativa de parecer convincente. Não gosto de radicalismos baratos com o intuito de chocar. E Dançando no Escuro é uma tragédia sem humanidade suficiente para colocar o espectator em posição de cúmplice, tal qual Brokeback. Somos apenas voyeurs, em Brokeback e em Dançando no Escuro, obrigados a aceitar um triste desfecho. E nem temos tempo de pedir socorro, a sair em defesa de um ou outro personagem. Eles não pedem piedade. Parecem todos fadados ao insucesso e infelicidade. O ato final de Brokeback passa em brancas nuvens sobre os espectadores; a inação da platéia é a mesma inação de Ennis, ao conversar com a mulher de Jack. Tudo acontece como "previsto".

O que eu vi no cinema não foi uma "história de amor entre caubóis". Questiono essa idéia tão perturbadora que corresponde ao mito do caubói. Há que fazer sentido a pessoas que conviveram com esta cultura. Eu nasci em 1980 e para mim a figura do caubói já estava filtrada, esmorecida, desconstruída. Em 80 o caubói já era risível, dúbio. Para os mais jovens, é anacrônico o heroísmo do "venha para o mundo de Marlboro". Entendo que os votantes da Academia, provavelmente americanos com mais de 40 anos, sejam vulneráveis a essa tentativa de Annie Proulx de parecer herética. Não é o meu caso, e mesmo assim eu não consegui chegar perto de Brokeback... Ele me manteve em minha cadeira o tempo todo. Não sei se isso é bom.


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