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terça-feira

Comida é pasto

E não é que a culinária domina atualmente os momentos em que exercito a função fática? É incrível: feijão-com-arroz virou meu assunto preferido de uns tempos para cá. Foi como um maná do céu, portanto, que caiu em minhas mãos o livro Alho & Safiras, da jornalista norte-americana Ruth Reichl (Ed. Objetiva, 360 p., R$ 46,90). Ex-crítica de gastronomia no Los Angeles Times e no NY Times, ela hoje é editora da revista Gourmet e uma dona-de-casa assaz prendada. O melhor é que Ruth Reichl realmente acredita que comida é pasto, mas um pasto verde incrivelmente sedutor. Calma: Ruth não está nessa pelo acesso ao mundo maravilhoso dos ricos e famosos. Ele gosta de comer, de verdade. Se um moquifo coreano do outro lado da cidade tivesse a melhor combinação de temperos orientais, lá estaria ela.
Nos anos de ouro de sua carreira, Ruth costumava se disfarçar para ir aos restaurantes que avaliava. Travestir-se era uma maneira de garantir a idoneidade dos serviços que recebia. Como crítica de gastronomia do New York Times. Ruth vivia cercada de mimos e vantagens, tais como provar as frutas maiores e mais gostosas de uma sobremesa, os pratos mais caprichados e o carinho especial da equipe que a atendia. Então era melhor se safar do tratamento VIP, pelo bem da reportagem.
O livro é uma delícia. Os capítulos passam voando, tal qual uma refeição dos deuses num restaurante bacana, e ao final de cada um deles, a sobremesa: Ruth nos presenteia com receitas para "acompanhar" a história que foi contada. Uma graça.
(Warning: os pecados da tradução são desesperadores. Derraparam legal ao converter termos ligados à gastronomia. Coisas que a segunda edição (espero!) há de melhorar.)
Vale ainda uma reflexão: num dos melhores trechos do livro, Ruth conta como foi entrar vestida de "velha pobre" em um bistrô elegante de Manhattan. O que sentiu lá dentro, e depois, no metrô, quando entrega os restos da refeição a um mendigo, a fizeram refletir sobre sua profissão. Sinto que Ruth é meio que minha irmã nisso. Estou longe do hard news e muito perto de um mundo que não me pertence, onde talvez eu nunca venha a me sentir totalmente confortável. Como é que eu consigo dormir à noite depois de ter feito uma matéria numa mansão, onde habita gente que não se preocupa com as contas do dia seguinte, e ter de atravessar a cidade de ônibus para chegar em casa, num bairro-dormitório da periferia?
Afinal, qual é a utilidade de ser falar de gastronomia? Ou sobre arquitetura e decoração, assunto que tem cercado minha vida profissional? Ruth responde por mim em sua coluna escrita para o NY Times, divulgada também no livro: "Porque desaprovo o que faço". Ufa. Não estou sozinha nessa. É inútil? Essencialmente, sim. Mas não há nada como um amontoado de idiossincrasias para revelar o tipo de vida que nós levamos, e o mundo que queremos. Sirvo a causas invisíveis, impalpáveis, quando escrevo sobre o teto de alguém. E acredito que hoje conheço muito melhor as pessoas e a mim mesma por fazer jornalismo frufru.

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Às vezes eu perco a noção do ridículo. Perdoem pelo texto colegial sobre Guimarães Rosa. Ele não merecia isso...

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