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Meu nome é Olívia Fraga, gosto de ler e é só isso que você precisa saber. |
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sábado
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Um péssimo ano para os livros
Não, não! Nem me atrevo a falar do virtuosismo dos lançamentos de 2006. O problema sou eu. Fui notar hoje, pela minha contabilidade literária (sim, eu anoto os livros que leio), que em 12 meses eu li apenas 12 livros. É um péssimo resultado, uma queda de 30 a 40% em relação ao mesmo período do ano passado. Fui honesta na minha contagem, e considerei As Brumas de Avalon como um livro só, como de fato é. No tamanho valeria por pelo menos dois, mas tudo bem, nem que eu fosse imbecil a ponto de aumentar na conta por causa do calhamaço da Marion Zimmer Bradley, não há o que comentar. Li pouquíssimo esse ano. Pretendo evitar comparações com outras pessoas e comigo mesma, eu que já fui muito mais rata de biblioteca. Mas careço de fazer uma análise dos porquês: 1) Falta de tempo foi o fator preponderante. Fiz outras coisas com mais frequência, por exemplo escrever, bater perna e palavras cruzadas; 2) Voltei a ter enxaquecas em 2006, o que me deixa fora de mim de raiva e de dor; 3) Tivemos Copa do Mundo; 4) Comecei a fazer plantão de final de semana, mas isso foi no final do ano - ah, isso não é desculpa!
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sexta-feira
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Recortes de tempo Já em 1992, o Conservatório Dramático e Musical de São Paulo andava às mínguas. A decadência deve ter começado na década de 50, 60, não sei. Sobre ele, eu só sabia que o entorno fedia muito. Bem ali, na Praça do Correio, ao lado de um daqueles cinemões do centro velho dedicados a filmes pornôs, funcionava a mais antiga e uma das mais importantes escolas de música do País.
Fui a contragosto. Piano era lindo, mas difícil. Exigia demais, eu não tinha um bom instrumento, meus dedos não eram tão ágeis, aquelas desculpas batidas para a preguiça dos meus 12 anos. Eu tinha a mais adolescente das visões - tudo para ontem, tudo intenso: se não era para ser uma grande pianista, que desistisse de estudar. Mas a dona Bárbara (minha mãe) não queria e eu fui obrigada a frequentar o Dramático.
Era apenas "frequentar", mesmo. Não andava para frente, só estudava Czerny e Bach, minha professora de piano vivia do passado e não parecia ligar muito para mim e minha irmã. Seu nome era Carmen Fernandes. Ela devia ter quase 70 anos, vivia sempre meio adoentada, mas ela era o retrato da Paulicéia "ilustrada", ou o que eu imaginava que fossem as mulheres dessa idade que tinham estudado em bons colégios e conhecido uma época mais bonita na cidade que virava metrópole. Tinha voz aveludada, a dona Carmen, disciplina férrea e saudade nos olhos azuis. Paulistano é muito saudosista. Dona Carmen era filha de espanhóis mas muito paulistana. As mãos dela dedilhavam o piano com uma leveza que eu invejava. Dona Carmen fazia carinho no piano. Eu o surrava.
Eu, que estava experimentando o mundo longe do lugar onde nasci, não soube dar muito valor aos anos que passei ali. Mas lá pelo último ano peguei muito gosto e fui aluna aplicada, eu e minha irmã. Dona Carmen, para minha infelicidade, faleceu quando eu estava mais feliz nos estudos, uma satisfação em fazer parte daquilo tinha tomado conta da gente em casa, tínhamos comprado o primeiro aparelho de CD e os primeiros discos que compramos foram de concertos da Point Productions. Um deles tinha um Sonata ao Luar que até hoje não sei quem toca, porque o encarte veio impresso errado... Daí em diante eu só queria ouvir música. Parei de estudar.
Lembrei disso porque estava lendo uma matéria dia desses sobre a reforma e revitalização do prédio do Conservatório Dramático, que ainda não saiu do papel. Ia ser maravilhoso vê-lo firme novamente, mas os tempos são outros. Ninguém se interessa em bancar um projeto desses. A iniciativa privada quer louros visíveis, bota a mão no bolso só quando o retorno é alto, rápido e fácil. Aí, então, deixar na mão do governo parece piada. Não me arrisco a dar qualquer palpite, quem sou eu para isso? Minha queixa é quanto ao público. Quem ouve música clássica hoje? Quem é que estuda piano clássico hoje em dia? O mundinho erudito tá centrado em uma porção de bem-nascidos ou euroopeizados, ou ainda em evangélicos que estudam música sacra para tocar nos cultos. O público que frequenta concerto é basicamente o público que estuda música. Não há renovação nos quadros. É uma pena. Eu defendo a volta do ensino de música nas escolas. Religião não; música sim. Já estaria ótimo.
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