Meu nome é Olívia Fraga, gosto de ler e é só isso que você precisa saber.
 
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  * Só Aborrecimento
* Chão
* Desagradável
* No Mínimo
* Jesus, Me Chicoteia




sábado

Ah, a inteligentsia


Pauta para Gilda Mattoso, autora do livro Assessora de Encrenca:

- Muito prazer, Gilda. Sou uma mera mortal, não tenho metade dos amigos que você tem. Mas me diga: o que a motivou a escrever um livro de quase 200 páginas sobre a quantidade de pessoas importantes que você conhece?
- Qual a participação do seu irmão na feitura do livro, já que metade dele parece ter sido extraído de um diário?
- Por que o apreço pelas pa
lavras “enfim” e “assim”, usadas a torto e a direito na obra?
- O livro sofreu alguma edição final? Poderia dizer por que ele repete fatos, nomes e referências de quando em quando?
- No início a senhora cita “Eusébio de Queirós Mattoso”, seu antepassado, um homem que faz parte da história brasileira, o homem que assinou a lei que aboliu o tráfico negreiro. No parágrafo seguinte, diz que nada significam as credenciais, que cada um faz sua própria história. A senhora vê alguma incongruência aí?
- Não é constrangedor escrever um livro de memórias com memórias de terceiros?



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Para iniciados



O ano começou bem no campo literário e eu, que andava desgostosa da vida, descobri um belíssimo romance de Vladimir Nabokov escrito em 1969. Ada ou Ardor: Crônica de uma família veio depois de Lolita e, segundo o ensaio da edição que li (Companhia das Letras, R$ 61), fez um tremendo sucesso no começo dos anos 70. Em seguida, foi esquecido pela crítica, que considerava a narrativa fantasiosa um mero estepe para segurar um obra sem profundidade.



Discordo.



O epitélio é uma história de amor em forma de romance, um memorial de família a partir do incesto repetido em duas gerações, quase nas mesmas circunstâncias. Resumir enredos não é lá minha especialidade – nem do meu gosto – mas vale aqui mencionar os fatos: estamos no final do século XIX, observando uma família de aristocratas. Van Veen é o narrador que se mantém afastado da narrativa mas que entra na história quando Ada, sua irmã / prima / amante comenta a obra, no final de parágrafos, entre parênteses. Ada lê o livro junto com o leitor. Recomenda alterações, elogia.

Van e Ada vivem uma paixão de décadas repetindo a tragédia vivida por seus pais, envolvidos em um triângulo amoroso entre duas irmãs e dois irmãos, também primos entre si. O amor de Ada e Van, que são mais do que “almas gêmeas” (para mim, são as mesmas pessoas vivendo com sexos diferentes) não é apenas vergonhoso. Ele é egoísta, louco, cruel. Consegue destruir Lucille, irmã mais nova de Ada, talvez a personagem mais importante da história, que adora Ada, que ama Van. Lucille, a beldade ruiva deixada para trás, fica perdida entre o desejo agudo de dois amantes e uma família abastada que parece fadada aos mesmos erros.



Ada é um livro de disfarces, de uma engenhosidade que surpreende o leitor até o final. Não é preciso mergulhar muito para perceber as incongruências de um relato aparentemente “realista” (o autor engana muito bem ao travesti-lo de romance realista). O primeiro parágrafo do livro consegue, de uma tacada só, subverter a abertura de Ana Karênina, citar uma editora que não existe e colocar uma “micro-Rússia” no coração dos Estados Unidos. Em Ada, a Terra é um planeta que só existe na imaginação dos homens. A menos que alguém queira se dar ao trabalho de conferir todos os dados lançados de forma displicente na história (fatos, nomes de lugares) como supostas “verdades do senso comum”, é impossível não cair na teia de Nabokov. Você pensa “bom, é ficção, tá valendo”, mas poderia não ser – claro, a idéia aqui é dizer “não é nem ficção, é mentira, e você está comigo nessa”. Armadilha infalível, a de Nabokov. São raros os livros em que o pressuposto da verossimilhança seja tão “homeopaticamente” agudo, tão radical.

Ensaio sobre o tempo, crônica familiar, obra de ficção científica, com direito a viagens espaciais e microcósmicas nas asas de borboletas. Na “Antiterra”, local onde se passa a trama, Ada seria considerada obra do realismo fantástico. É tudo isso, e ainda é fantasticamente bom.

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terça-feira

Leia de novo
Mas toda a lenga-lenga do post abaixo era para falar justamente d' As Brumas de Avalon. Eu tinha 13 anos quando li pela primeira vez. Fiquei tão fascinada por aquele mundo fantástico (ainda não conhecia O Senhor dos Anéis, que aliás não tem tanto a ver assim com Rei Artur, mas que provavelmente inspirou Marion Zimmer Bradley a fazer a sua saga mágica) que respondia de bate-pronto quando me perguntavam qual era meu livro preferido. Mesmo tendo lido muito livro legal até os 17, 18 anos, "As Brumas" sempre foi minha referência maior em termos de envolvimento literário, superada em parte apenas quando li O Amor nos Tempos do Cólera ou O Nome da Rosa.

Em 2006 tomei coragem e resolvi ler tudo de novo, esquecendo por algumas semanas a pilha de livros novos que me aguardam em casa. O resultado? Meio frustrante, meio hilário... Acontece que, enquanto eu lia, eu lembrava daqueles tempos de ginásio, das pessoas, do clima - consigo até ver a chuva pesada que caía entre outubro e dezembro de 93, época em que terminava de ler - e da minha falta de malícia para reconhecer um erro de tradução, ou qualquer inverossimilhança muito safada que a autora fez que não viu e que eu, com 13 anos, notei menos ainda. Foi como reconhecer minha inocência naqueles tempos. Tendo o dobro da idade hoje, a obra me pareceu um amontoado de clichês feministas, embora tenha atraído tantos fãs consagrados em defendê-la.

É ainda um bom livro? Como passatempo, claro que sim. Mas tire a "magia" da leitura e esta é a impressão que me causaria ler As Brumas de Avalon hoje como se fosse da primeira vez.

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sábado

Um péssimo ano para os livros

Não, não! Nem me atrevo a falar do virtuosismo dos lançamentos de 2006. O problema sou eu. Fui notar hoje, pela minha contabilidade literária (sim, eu anoto os livros que leio), que em 12 meses eu li apenas 12 livros. É um péssimo resultado, uma queda de 30 a 40% em relação ao mesmo período do ano passado.
Fui honesta na minha contagem, e considerei As Brumas de Avalon como um livro só, como de fato é. No tamanho valeria por pelo menos dois, mas tudo bem, nem que eu fosse imbecil a ponto de aumentar na conta por causa do calhamaço da Marion Zimmer Bradley, não há o que comentar. Li pouquíssimo esse ano.
Pretendo evitar comparações com outras pessoas e comigo mesma, eu que já fui muito mais rata de biblioteca. Mas careço de fazer uma análise dos porquês:
1) Falta de tempo foi o fator preponderante. Fiz outras coisas com mais frequência, por exemplo escrever, bater perna e palavras cruzadas;
2) Voltei a ter enxaquecas em 2006, o que me deixa fora de mim de raiva e de dor;
3) Tivemos Copa do Mundo;
4) Comecei a fazer plantão de final de semana, mas isso foi no final do ano - ah, isso não é desculpa!


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sexta-feira

Recortes de tempo
Já em 1992, o Conservatório Dramático e Musical de São Paulo andava às mínguas. A decadência deve ter começado na década de 50, 60, não sei. Sobre ele, eu só sabia que o entorno fedia muito. Bem ali, na Praça do Correio, ao lado de um daqueles cinemões do centro velho dedicados a filmes pornôs, funcionava a mais antiga e uma das mais importantes escolas de música do País.

Fui a contragosto. Piano era lindo, mas difícil. Exigia demais, eu não tinha um bom instrumento, meus dedos não eram tão ágeis, aquelas desculpas batidas para a preguiça dos meus 12 anos. Eu tinha a mais adolescente das visões - tudo para ontem, tudo intenso: se não era para ser uma grande pianista, que desistisse de estudar. Mas a dona Bárbara (minha mãe) não queria e eu fui obrigada a frequentar o Dramático.

Era apenas "frequentar", mesmo. Não andava para frente, só estudava Czerny e Bach, minha professora de piano vivia do passado e não parecia ligar muito para mim e minha irmã. Seu nome era Carmen Fernandes. Ela devia ter quase 70 anos, vivia sempre meio adoentada, mas ela era o retrato da Paulicéia "ilustrada", ou o que eu imaginava que fossem as mulheres dessa idade que tinham estudado em bons colégios e conhecido uma época mais bonita na cidade que virava metrópole. Tinha voz aveludada, a dona Carmen, disciplina férrea e saudade nos olhos azuis. Paulistano é muito saudosista. Dona Carmen era filha de espanhóis mas muito paulistana. As mãos dela dedilhavam o piano com uma leveza que eu invejava. Dona Carmen fazia carinho no piano. Eu o surrava.

Eu, que estava experimentando o mundo longe do lugar onde nasci, não soube dar muito valor aos anos que passei ali. Mas lá pelo último ano peguei muito gosto e fui aluna aplicada, eu e minha irmã. Dona Carmen, para minha infelicidade, faleceu quando eu estava mais feliz nos estudos, uma satisfação em fazer parte daquilo tinha tomado conta da gente em casa, tínhamos comprado o primeiro aparelho de CD e os primeiros discos que compramos foram de concertos da Point Productions. Um deles tinha um Sonata ao Luar que até hoje não sei quem toca, porque o encarte veio impresso errado... Daí em diante eu só queria ouvir música. Parei de estudar.

Lembrei disso porque estava lendo uma matéria dia desses sobre a reforma e revitalização do prédio do Conservatório Dramático, que ainda não saiu do papel. Ia ser maravilhoso vê-lo firme novamente, mas os tempos são outros. Ninguém se interessa em bancar um projeto desses. A iniciativa privada quer louros visíveis, bota a mão no bolso só quando o retorno é alto, rápido e fácil. Aí, então, deixar na mão do governo parece piada. Não me arrisco a dar qualquer palpite, quem sou eu para isso? Minha queixa é quanto ao público. Quem ouve música clássica hoje? Quem é que estuda piano clássico hoje em dia? O mundinho erudito tá centrado em uma porção de bem-nascidos ou euroopeizados, ou ainda em evangélicos que estudam música sacra para tocar nos cultos. O público que frequenta concerto é basicamente o público que estuda música. Não há renovação nos quadros. É uma pena. Eu defendo a volta do ensino de música nas escolas. Religião não; música sim. Já estaria ótimo.

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quinta-feira

É bom, mas é ruim
Preciso saber por que adoro odiar o Keane.
Eles fazem um tipo de música absolutamente agradável aos ouvidos (quem disse que isso é pecado?). O segundo disco supera o primeiro: há pelo menos quatro músicas que eu gostei de primeira, "Crystal Ball", "Atlantic", "Nothing in My Way" e "Broken Toy". Assim, sem fazer força para gostar, porque tem refrão e belos acompanhamentos - mérito de uma produção irretocável, feita para agradar mesmo. O timbre do vocalista lembra o Bono em seus melhores dias, mas é ainda melhor que o irlandês, mais afinado e pungente. O cara pode cantar qualquer coisa com aquela voz, que "é capaz de encher o Grand Canyon", como disse alguém no New York Times, se não me equivoco.
A questão que se coloca é a seguinte, a meu ver: por que gostar de uma banda que não acresenta nada? Até gostar de The Killers é mais aceitável. Tenho de completar zilhões de lacunas em minha formação musical roqueira, e esse ano teve gente muito mais interessante lançando novo disco na praça. Será que vale a pena perder tempo com outro Coldplay, outra banda-dublê de Radiohead? Aliás, eles brincam de gangorra com o Coldplay, notei dia desses. Enquanto o grupo do Chris Martin tem guitarras e parece querer nos salvar da depressão ("I will try to fix you", que pretensão!), o trio-sem-guitarra do gordinho quer mais é ser um loser ser culpa, jogado na sarjeta da vida. ("Broken Toy" é a melhor do novo disco do Keane, com uma letra interessante - que não fala sobre garotas, como muitos acreditam, embora também seja sobre "perda" - bons vocais e boa música, tudo certinho e no lugar).
Vale dizer que eles se encaixam quase com perfeição na categoria de "bandas-coxinha", conceito que vem sendo discutido na comunidade da Bizz no Orkut. Eu disse "quase" porque eu não consigo vê-los ao lado das "coxinhas" brasileiras, tipo Skank.

Se a idéia dessas novas bandas é sacudir o mercado fazendo "mais do mesmo", o Keane tá ganhando de lavada. Eles parecem com o Coldplay no que a banda do Chris Martin tem de pior (e de mais apelativo), que é o som grandioso apesar das letras patéticas, que eu carinhosamente chamo de "bolhas de sabão" - parecem tão profundas e pungentes, mas quando a música acaba você tem impressão de ter ouvido trechos de Paulo Coelho musicados. O Coldplay é o que é hoje por causa dessa grandiosidade, que obviamente encanta os órfãos de U2 e tantos outros que sonham ainda encontrar a "banda de pop-rock do coração".
É imperdoável. Aliás, começar a carreira fonográfica com uma música como "Somewhere Only We Know", como o Keane começou, é só para quem não tem medo de parecer ridículo. A música é tão politicamente correta que passa do ponto. Onde está a raiva explosiva dessa banda de rock? Bem, acho que estou querendo demais de um bando de carinhas que curtem fazer um som.
Pra dizer a verdade, o problema sou eu e não eles. Parece que estou à caça de estereótipos rock'n'roll para poder gostar mais de Keane. Aliás, já consegui: o vocalista gordinho andou se internando em clínica de desintoxicação...

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segunda-feira

Esquerda X Direita

O candidato da esquerda tem amigos de direita, e é basicamente um conservador.
O candidato da direita tem amigos de esquerda. Mas é só. Porque ele fez 4 anos de governo jogando o jogo como um conservador.
O candidato da esquerda aponta, gesticula e acusa. Quer justiça e clareza.
O candidato da direita, que diz ser de esquerda, desvia dos golpes e prefere olhar para um passado mais distante, quando a política que se fazia parecia mais encardida. Coisa de 12 anos atrás.
O candidato da esquerda não convenceu a esquerda a votar nele.
O candidato da direita manipulou a esquerda, que tem sido sua por 20 anos, e cortejou a direita nos últimos 4.
O candidato da esquerda é equivalente ao candidato da direita.
O candidato da esquerda ganhou o primeiro turno.
O candidato da direita venceu o segundo turno.

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sexta-feira

The next worst thing, ou a sublimação pela arte
É triste a rotina de esperar pela "próxima notícia ruim". As pessoas estão à beira de um colapso nervoso nessa cidade e eu não podia ficar de fora dessa. Mas a hecatombe ainda não aconteceu, e enquanto ela não chega eu vejo com prazer o DVD do Nelson Freire e ouço outro tanto de Fleetwood Mac, dando goles no vinho barato para espantar o frio e contando os dias para a primavera chegar (porque ela vai chegar, ora se vai).
Mas não foi isso que me trouxe aqui. Meses atrás vi na TV a montagem "modernosa" (na falta de um termo melhor) de Peter Sellar para o oratório "Theodora", de Haendel, e gostei de cara da mezzo-soprano que interpretava Irene. Passei meses procurando um horário de reprise do programa, e fucei a net para saber mais sobre ela. Para minha sorte, Lorraine não é apenas uma cantora de belíssima técnica e coloratura, mas uma mulher inteligente. Não consigo não gostar de quem cita Joni Mitchell...
Mas eis que o YouTube quebra o galho para mim. Há uma dúzia de vídeos de Lorraine Hunt por lá. Pena que agora é tarde: a cantora faleceu dia 3 de julho deste ano, vítima de câncer. Fica aqui um tributo imaturo à uma grande cantora.
Quem gosta de ouvir pessoas cantando (e não berrando) não se arrependerá. Passem lá no YouTube.

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terça-feira

Comida é pasto

E não é que a culinária domina atualmente os momentos em que exercito a função fática? É incrível: feijão-com-arroz virou meu assunto preferido de uns tempos para cá. Foi como um maná do céu, portanto, que caiu em minhas mãos o livro Alho & Safiras, da jornalista norte-americana Ruth Reichl (Ed. Objetiva, 360 p., R$ 46,90). Ex-crítica de gastronomia no Los Angeles Times e no NY Times, ela hoje é editora da revista Gourmet e uma dona-de-casa assaz prendada. O melhor é que Ruth Reichl realmente acredita que comida é pasto, mas um pasto verde incrivelmente sedutor. Calma: Ruth não está nessa pelo acesso ao mundo maravilhoso dos ricos e famosos. Ele gosta de comer, de verdade. Se um moquifo coreano do outro lado da cidade tivesse a melhor combinação de temperos orientais, lá estaria ela.
Nos anos de ouro de sua carreira, Ruth costumava se disfarçar para ir aos restaurantes que avaliava. Travestir-se era uma maneira de garantir a idoneidade dos serviços que recebia. Como crítica de gastronomia do New York Times. Ruth vivia cercada de mimos e vantagens, tais como provar as frutas maiores e mais gostosas de uma sobremesa, os pratos mais caprichados e o carinho especial da equipe que a atendia. Então era melhor se safar do tratamento VIP, pelo bem da reportagem.
O livro é uma delícia. Os capítulos passam voando, tal qual uma refeição dos deuses num restaurante bacana, e ao final de cada um deles, a sobremesa: Ruth nos presenteia com receitas para "acompanhar" a história que foi contada. Uma graça.
(Warning: os pecados da tradução são desesperadores. Derraparam legal ao converter termos ligados à gastronomia. Coisas que a segunda edição (espero!) há de melhorar.)
Vale ainda uma reflexão: num dos melhores trechos do livro, Ruth conta como foi entrar vestida de "velha pobre" em um bistrô elegante de Manhattan. O que sentiu lá dentro, e depois, no metrô, quando entrega os restos da refeição a um mendigo, a fizeram refletir sobre sua profissão. Sinto que Ruth é meio que minha irmã nisso. Estou longe do hard news e muito perto de um mundo que não me pertence, onde talvez eu nunca venha a me sentir totalmente confortável. Como é que eu consigo dormir à noite depois de ter feito uma matéria numa mansão, onde habita gente que não se preocupa com as contas do dia seguinte, e ter de atravessar a cidade de ônibus para chegar em casa, num bairro-dormitório da periferia?
Afinal, qual é a utilidade de ser falar de gastronomia? Ou sobre arquitetura e decoração, assunto que tem cercado minha vida profissional? Ruth responde por mim em sua coluna escrita para o NY Times, divulgada também no livro: "Porque desaprovo o que faço". Ufa. Não estou sozinha nessa. É inútil? Essencialmente, sim. Mas não há nada como um amontoado de idiossincrasias para revelar o tipo de vida que nós levamos, e o mundo que queremos. Sirvo a causas invisíveis, impalpáveis, quando escrevo sobre o teto de alguém. E acredito que hoje conheço muito melhor as pessoas e a mim mesma por fazer jornalismo frufru.

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Às vezes eu perco a noção do ridículo. Perdoem pelo texto colegial sobre Guimarães Rosa. Ele não merecia isso...

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